Do motu proprio "Doctoris Angelici" de São Pio X:

"Nenhum Concílio celebrado posteriormente à santa morte deste Doutor, deixou de utilizar sua doutrina. A experiência de tantos séculos põe de manifesto a verdade do que afirmava Nosso Predecessor João XXII: «(Santo Tomás) deu mais luz à Igreja que todos os demais Doutores: com seus livros um homem aproveita mais em um ano, que com a doutrina dos outros em toda sua vida» "(Alocução no Consistório, 1318.)

DA "LECTURA SUPER MATTHAEUM" DE SANTO DE TOMÁS DE AQUINO:

Comentando sobre a Grande Aflição que haverá no mundo durante o período em que a "Abominação da Desolação" estiver ocupando o Lugar Santo, escreve o Angélico:

"Em seguida, haverá uma grande tribulação, porque o ensino cristão será pervertido por um falso ensino. E se esses dias não tivessem sido abreviados, ou seja, através do ensino da doutrina, da verdadeira doutrina, ninguém poderia ser salvo, o que significa que todos seriam convertidos à falsa doutrina."
[Comentário de Santo Tomás de Aquino ao Evangelho de São Mateus - Cap.24,22 - notas de Pierre d'Andria (1256-1259),(630 pags.) Tradução ao francês por Professor Jacques Ménard e Madame Dominique Pillet (2005).]

segunda-feira, 12 de março de 2012

Comentário de Santo Tomás de Aquino - Sobre o Anticristo



Comentário de Santo Tomás de Aquino à Segunda Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses

– Capítulo II –

O Advento da Segunda Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Anticristo

Título do original latino:

Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici su per Secundam Epístolam Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses expositio


Fonte: www.clerus.org

Traduzido por Rodrigo Santana


Nota: O presente texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um belíssimo e extraordinário comentário da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicensses feito pelo mais Doutor dos Santos e o mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino.
A tradução para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santana através de um texto editado em castelhano pela Editorial Tradicón , S. A., Av. Sur 22 No. 14 (entre Oriente 259 y Canal de San Juan), Col Agrícola Oriental. México - Codigo Postal 08500) de 1977. A edição em castelhano (disponível no site da Congregação para o Clero: http://www.clerus.org) se deu através de um exemplar em latim intitulado Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici su per Secundam Epístolam Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses expositio editado por Petri Marietti em 1896.
O texto bíblico citado por Santo Tomás é o da Vulgata de São Jerônimo, infelizmente as atuais traduções em português não são tão fiéis aos termos empregados nesta referência católica das Escrituras, desta forma optamos por traduzir da Vulgata os textos utilizados neste comentário, dando assim maior uniformidade e fidelidade ao texto latino de Santo Tomás.

O que nos motiva a publicar o presente trecho do comentário de Santo Tomás (sobre o capítulo 2 de 2 Tess) é que ele trata de um tema  ainda muito incompreendido entre nós católicos deste século: o Anticristo. Neste trecho de seu comentário o Doutor Angélico apresenta-nos a doutrina tradicional da Santa Igreja Católica a respeito deste tema que é de especial interesse em nosso tempo. É mister lembrar ainda que os Pontífices Romanos não só recomendaram-nos à doutrina do Aquinate (Santo Tomás), mas também em diversas oportunidades confirmaram a autoridade de seus ensinamentos para toda a Igreja Católia (alguns exemplos: Aeterni Patris de Leão XIII, Doctoris Angelici de S. Pio X , Código de Direito Canônico de 1917, Studiorum Ducem de Pio XI, além de outros.)


Lição 1: 2 Tessalonicensses 2,1-5


Admoestamo-los a não apartar-se da verdade, como se o dia do juízo estivesse próximo, porque primeiro há de dar-se a conhecer o Anticristo, que São Paulo chama o homem do pecado.


1 Entretanto, irmãos, vos suplicamos, pelo advento de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de nossa união à Ele.

2 que não abandoneis rapidamente vossos sentimentos, nem os assusteis com supostas revelações, com certos discurso, ou com cartas que se suponham enviadas por nós, como se o dia do Senhor estivesse muito próximo.

3 Não deixai-vos seduzir por nada e de nenhum modo, porque não virá este dia sem que primeiro haja acontecido a apostasia geral dos fiéis, e aparecido o homem do pecado, o filho da perdição,

4 o qual se oporá à Deus e se levantará contra tudo o que se diz Deus, ou se adora, até chegar a por seu assento no templo de Deus, dando-se a entender que é Deus.

5 Não vos recordais que, quando estava entre vós, vos dizia estas coisas?


No capítulo anterior o Apóstolo correu o véu aos acontecimentos futuros no que mostra as penas dos maus e o prêmio dos bons; aqui anuncia os perigos que correrá a Igreja no tempo do Anticristo; e primeiro anuncia a verdade desses perigos futuros, e exórta-os logo a permanecer na verdade. Quanto ao primeiro, excluída a falsidade, os instrui na verdade. Traz-lhes também a consideração à (tripla) razão que servirá para persuadí-los, e a que: "a não deixar-se alterar tão facilmente"; e toma do meio que pudera abordá-los. Induze-os, não com mandatos (Fil 1) senão com seus próprios rogos: "os suplicamos".  Pelo advento de Cristo, embora terrível para os maus (Am 5), desejável para os bons (2Tm 4; Ap 22); Pelo desejo e amor de toda a congregação dos Santos, "nele mesmo", e à saber, onde está Cristo, porque "onde está o corpo, ali se juntarão as águias" (Mt 24). Ou nele mesmo, porque todos os Santos, em lugar e glória, estarão no mesmo, segundo o mesmo: "junta-lhe seus santos". Mas a que os induz? "a que não mudeis de ligeiro vossos sentimentos". Mas uma coisa é mover-se e outra ser presa do terror. Move-se de seu sentir quem deixa o que teve; como se dissera: não deixes tão rapidamente minha doutrina. “Quem pronto crê é cabeça leviana” (Eclo. 19). Mas o terror é um gênero de trepidação, como o medo do contrário. Por isso disse: "nem os aterrorizeis", como o ímpio, em cujos ouvidos "soa sempre um estrondo que lhe aterra" (Jó 15,21). Também se houver paz, é suspeita sempre ciladas e traições, "pois sendo como é medrosa a maldade, traz consigo o testemunho de sua própria condenação" (Sab 17,10).


-a)"com supostas revelações". Dá de mão ao que poderia movê-los, em especial e no geral: "que nada os seduza"; e é um seduzido ou enganado por uma falsa revelação; donde diz: "com supostas revelações" ou pelo espirito, isto é: se alguns disserem que o Espírito Santo revelou-lhe algo de encontro a minha doutrina, "não os aterrorizeis" (1Jo 4; Ez. 13). Algumas vezes também Satanás transfigura-se em anjo de luz, como se diz em 2Co 11 e 3 Reis,22: "sairei e serei um espirito mentiroso na boca de todos seus profetas"; b) por um raciocínio ou falsa exposição da Escritura; por isso diz: "com certos discursos" (2Tm 2; Ef 5); c) por uma autoridade distorcida a um perverso sentido. "Segundo que também nosso caríssimo irmão Paulo os escreveu conforme à sabedoria que lhe foi dada, como o faz em todas suas cartas... nas quais há algumas coisas difíceis de entender, cujo sentido os indoutos e inconstantes pervertem, da mesma maneira que nas demais escrituras de que abusam, para sua propria perdição" (2 Pedro,3,16). Mas sobre o que versava o engano?: "como se o dia do Senhor estivesse já muito próximo". E adiciona: "ou com cartas que se supunham enviadas por nós"; porque na Primera Carta, se mal se entende, parece dizer que a vinda do Senhor está já à porta, como aquilo: "logo nós os que vivemos... "


Diz o mesmo no geral: "que nada os engane de nenhum modo" (Lc 21; 1Co 15). A razão pela qual o Apóstolo tira do meio estas “pedras de tropeço”, é porque o prelado por nenhum motivo há de querer que valendo-se de mentiras se consigam alguns bens.

"A mais disso, somos convencidos de testemunhos falsos" (1Co 15,15). Assim mesmo porque a coisa crida era perigosa: que se aproximava a chegada do Senhor. Primeiro, porque se daria ocasião a maior engano, já que haveriam alguns, depois de mortos os Apóstolos, que diriam serem eles o Cristo (Lc 21). Por isso o Apóstolo não quis que houvesse lugar a dúvidas. Também porque o demônio pretende com frequência fazer-se passar por Cristo, como consta na Vida de São Martinho; e não quis que os Tessalonicenses passasem pelo mesmo. Santo Agostinho põe outra razão: porque correria perigo a fé; pois algum diria: tardará em vir o Senhor, e então me prepararei para recebê-lo. Outro: logo virá, agora vou-me preparar. Outro, enfim: não sei; e este está mais no justo, porque concorda com o que diz Cristo.

Mas o que vai mais errado é o que diz: logo, porque, passado o fim da pregação, os homens entrariam em desespero e creriam que fosse falso o que estava escrito.

Estabelece logo a verdade, ao dizer: "porque não virá este dia sem que primeiro haja acontecido a apostasia"; e mostra primeiro o que acontecerá à vinda Anticristo, que são duas coisas: uma anterior à sua vinda; outra, a sua mesma vinda. Primeiro está a apostasia, que a Glosa explica de muitas maneiras, e primeiro da fé, que, segundo estava anunciado (Mt 24), todo o mundo a receberia. Esta é, pois o sinal precursor, que -segundo Santo Agostinho- ainda não se cumpre; depois dela haverá muitos apóstatas (1Tm 4) "e pela inundação dos vícios se resfriará a caridade de muitos" (Mt 24,12).

Ou entenda-se a apostasia ou separação do Império Romano, ao que todo o mundo estava submetido. Segundo Santo Agostinho, figura sua era a estátua de Daniel, em cujo capítulo dois se nomeiam quatro reinos, os quais terminariam no acontecimento da vinda de Cristo; e que isto era um sinal a propósito, porque a firmeza e estabilidade do Império Romano estava ordenada a que, debaixo de sua sombra e senhorio se ensinasse por todo o mundo a fé cristã. Mas como pode ser isto, sendo já passados muitos séculos desde que os Gentios se apartaram do Império Romano e, isso não obstante, não havia vindo ainda o Anticristo? Digamos que o Império Romano ainda segue em pé, mas mudada sua condição de temporal em espiritual, como disse o Papa São Leão em um sermão sobre os Apóstolos. Por conseguinte, a separação do Império Romano há de entender-se, não só na ordem temporal, senão também na espiritual, e, a saber, da fé católica da Igreja Romana. E isto é um sinal muito a propósito, porque, assim como Cristo veio quando o Império Romano senhoreava sobre todas as nações, assim pelo contrário o sinal do Anticristo é a separação dele ou apostasia.

Prediz em segundo lugar ao Anticristo, quanto a sua culpa e pena, que toca implícitamente e em comum, e seguidamente explica, e quanto ao seu poder. Disse pois: primeiro virá a apostasia e então se deixará ver. E chama-se "o homem do pecado, o filho da perdição", segundo a Glosa, porque assim como em Cristo abundou a plenitude da virtude, assim também no Anticristo a multidão de todos os pecados; e assim como Cristo é melhor que todos os santos, assim o Anticristo pior que todos os maus. Por isto se chama o homem do pecado, porque ele todo, dos pés a cabeça, será um puro pecado. Mas isto não quer dizer que não pudesse ser pior, porque o mal jamais corrompe totalmente o bem, conquanto ao ato não poderá ser pior; contudo melhor que Cristo nenhum homem. Disse-se "o filho da perdição", isto é, destinado à perdição final (Jó 21). O filho da perdição, isto é, do diabo, não por natureza, senão pela malícia acabada, que nele se acumulará. E disse: "se fará manifesto"; porque assim como todos os bens e virtudes dos santos, que precederam à Cristo, foram figura de Cristo; da mesma maneira em todas as perseguições da Igreja os tiranos foram como figura do Anticristo no que ele estava latente; e assim toda aquela malícia, que estava escondida neles, se fará patente a seu tempo.


Ao dizer logo: "no qual se oporá à Deus", explica o que havia dito , e demonstra como é o homem do pecado e como é filho da perdição. Assim mesmo prenuncia sua futura culpa, que descreve e demonstra e indica sua causa, e diz que não anuncia nenhuma doutrina nova. Da também um sinal dessa culpa, que é duplo, a saber, a oposição contra Deus e o preferir-se a Cristo. De onde diz: "que faz oposição" a todos os espíritos bons (Jó 15; Is 3) e "se levantará contra tudo o que se diz Deus". E diz-se Deus de três maneiras: a) por natureza. "Escuta, Israel, o Senhor teu Deus é um só Deus" (Deut. 6); b) na opinião dos povos. "Todos os deuses dos Gentios são demônios" (Sl. 95). c) por participação. "Eu disse: sois deuses " (Sl. 81). E a todos estes prefere-se  o Anticristo, "e se levantará soberbo e insolente contra todos os deuses; e falará com arrogância contra o Deus dos Deuses" (Dan. 11,36).


(nt. do tradutor: quanto à relação a não anunciar nenhuma doutrina nova, Santo Tomás está se referindo ao Apóstolo São Paulo e não ao Anticristo. Como pode se notar no último parágrafo desta parte da tradução *)


Sinal de sua culpa é o que diz: "até chegar a por seu assento no templo de Deus"; pois a soberba do Anticristo avantaja em muito a de todos os que lhe precederam. Porque assim como se lê de Caio César que quis em vida pusessem em todos os templos uma estátua sua e lhe dessem culto; e do rei de Tiro se diz em Ezequiel 28: "eu sou Deus"; assim é crível o faça o Anticristo chamando-se Deus e homem; e na prova disso se sentará no templo. Mas em que templo?


Acaso não foi destruído pelos Romanos? Por isso dizem alguns que o Anticristo é da tribo de Dan, que não se nomeia entre as outras doze (Ap 7); e por isso também os Judeus o receberam primeiro, e reedificaram o templo em Jerusalém, e assim se cumprirá o de Daniel 9,27: "e estará no templo a abominação da desolação" (Mt 24). Mas alguns dizem que nunca será reedificada Jerusalém, nem o templo, senão que durará a desolação até a consumação no fim do mundo. Crença que admitem também alguns Judeus; por isso a explicação que dão de "no templo de Deus" a referem à Igreja, porque muitos eclesiásticos o receberão. Ou, segundo Santo Agostinho, se sentará no templo de Deus, isto é, exercerá seu principado e senhorio, como se fosse ele mesmo com os seus o templo de Deus, como Cristo o é com os seus.


Mostra que nada novo escreve, ao dizer: "não vos recordais que, quando estava todavia entre vós, vos dizia estas coisas?"; como se dissera: já antes, estando convosco, havia vos dito (1Jo 2; 2Co 10).*

Lição 2: 2 Tessalonicensses 2,6-9


Põe-se de manifesto a morte do Anticristo, e declara-se a demora de sua vinda.
6 Vós já sabeis a causa que agora o detém, até que seja manifestado a seu tempo.

7 O fato é que já vai obrando o mistério da iniquidade; entretanto, o que está firme agora mantenha-se até que seja tirado o impedimento

8 E então se deixará ver aquele perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o alento de sua boca e destruirá com o resplendor de sua presença

9 aquele iníquo que virá com o poder de Satanás, com toda sorte de milagres, de sinais e falsos prodígios,

10 e com todas as ilusões que podem conduzir à iniquidade àqueles que se perderam, por não haver recebido e amado a verdade a fim de salvarem-se.

Chega o Apóstolo, anunciando o futuro, contou a chegada e culpa do Anticristo; aqui nos mostra a causa que impede essa vinda; e primero descobre que eles já sabem a que causa se refere, e a propõe em termos obscuros. Assim pois: digo que é necessário se dê a conhecer o homem do pecado. "Já sabeis vós a causa que agora o detém", isto é, a causa de que se tarda, porque eu já lhes disse, de sorte que o que ao presente lhe detém, "a seu tempo", isto é, oportunamente, "se dará a conhecer" (Ecle.8).


-"O fato é que já vai obrando ou tomando forma o mistério da iniquidade". Explica por que se demora o Anticristo; e este texto tem muitas interpretações, porque mistério pode estar em nominativo ou acusativo. No primeiro caso o sentido é este: digo que a seu tempo se dará a conhecer, porque ainda o mistério, isto é, - figuradamente ocultado (enigmáticamente proposto), já está obrando nos fingidos (cristãos), que parecem bons, e na realidade são maus, e estão fazendo o ofício do Anticristo, "mostrando, sim, aparência de piedade, mas renunciando ao seu espírito" (2Tm 3,5). No segundo caso, ou no acusativo, se interpreta assim: porque o diabo, em cujo poder permanecerá o Anticristo, já começou ocultamente, por meio dos tiranos e enganadores, a cometer suas iniquidades; porque as perseguições à Igreja deste tempo são figuras dessa última perseguição contra todos os bons e, em comparação com aquela, são como a cópia respectiva da original. "Entretanto o que está firme agora". Isto também tem múltipla explicação. Uma - segundo Santo Agostinho e a Glosa- diz que, na opinião de alguns, o Anticristo é Nero, o primeiro perseguidor dos cristãos, que não foi morto, senão roubado fraudulentamente, e que algum dia será restituído em seu lugar. Donde o Apóstolo, dando por vã esta opinião, diz: "entretanto o que está firme agora", tendo em suas mãos o Império, "mantenha-se, até que seja tirado o impedimento", isto é, até que morra. Mas explicado desta maneira não cai bem, porque há muitos anos que Nero está morto, à saber, o mesmo ano que o Apóstolo. Refere-se melhor a Nero, como pessoa pública do Império Romano, até que seja tirado do meio, isto é, o Império Romano, deste mundo (Is 23,9: foi o Senhor dos Exércitos que o decidiu, para fazer murchar o orgulho de tudo que se honra).

Ou de outro modo: "entretanto o que tem", isto é, detem agora a chegada do Anticristo, detenha-o para que não venha; qual se fosse necessário que alguns venham todavía à fé e alguns se apartem dela, como se dissera: para deixar franquia à porta a ires e vires, entradas e saídas, o que agora detém até que venha detenha até que seja tirado do meio este homem obsceno. Ou também assim: entretanto o que tem agora fé tenha-a, isto é, mantenha-se firme nela (Ap 2). Até que seja tirado do meio, isto é, a reunião revoltosa de maus, se separe dos bons e se ponha aparte, como se fará na perseguição do Anticristo. Ou entretanto... isto é, que o mistério de iniquidade, a iniquidade misteriosa, que detém, detenha, até que a removam de seu esconderijo ao centro da praça, à vista do público; pois muitos pecam agora às ocultas, mas chegará o dia no qual farão à luz do dia; porque Deus suporta os pecadores enquanto às ocultas cometem seus pecados; mas o dia em que encontrarem o limite, então se lhe acabará a paciência, como sucedeu com os Sodomitas. Com tudo isso, Santo Agostinho confessa ignorar o que é o que o Apóstolo lhes diz, se já o sabiam; por isso diz: "já sabéis o que agora detém". Ademais não era coisa muito necessária de saber-se.


Ao dizer logo: "e então se deixará ver", põe-se a chegada do iníquo e sua pena; primero sua manifestação, logo sua pena. Quanto ao primeiro diz: aquele, o único, iníquo, perverso, se deixará ver, porque sua culpa se fará patente, "a quem o Senhor Jesus matará com o alento de sua boca". - "O zelo do Senhor dos exércitos é o que fará estas coisas" (Is 9,7), isto é, o zelo da justiça, que é amor; porque o espírito de Cristo é o amor de Cristo, e este zelo é o que o Espírito Santo tem para com a Igreja. Ou com o alento de sua boca, isto é, por ordem dela; porque São Miguel lhe dará morte no Monte das Oliveiras, de onde Cristo subiu aos céus. De sorte parecida encontrou seu fim Juliano o Apóstata, executado por mão divina. E esta é a pena presente, embora também será castigado com a eterna, porque "o destruirá com o resplendor de sua presença", isto é, com sua chegada que tudo o porá como um sol (1Co 4). E o destruirá, digo, com a eterna condenação (Sl. 27). Diz também resplendor, porque o Anticristo pareceu encher de trevas a Igreja, e as trevas são desterradas pelos resplendores; porque tudo o que o Anticristo dará a conhecer será demonstrado haver sido engano. (Et dicit, illustratione, quia ipse visus est Ecclesiam obtenebrare, et tenebrae expelluntur illustratione, quia quicquid Antichristus ostenderit, ostendetur fuisse mendacium.) trad. mendacium =  mentira, invenção, disfarce.

No latim: (Et haec est poena praesens, licet futura etiam aeternaliter punietur, quia destruet illustratione, etc., id est, in adventu suo omnia illustrante. I Cor. IV, 5: illuminabit abscondita tenebrarum, et cetera. Et destruet, inquam, aeterna, scilicet damnatione. Ps. XXVII, v. 5: destruet illos, et cetera. Et dicit, illustratione, quia ipse visus est Ecclesiam obtenebrare, et tenebrae expelluntur illustratione, quia quicquid Antichristus ostenderit, ostendetur fuisse mendacium. Deinde cum dicit eum cuius est adventus, praedicit potestatem Antichristi. Et circa hoc duo facit, quia primo ponit potestatem eius ad seducendum; secundo huius causam ex domini iustitia, ibi eo quod charitatem. Iterum prima in tres, quia primo ponit actorem huius potestatis; secundo modum seducendi; tertio ostendit seducendos. Actor huius potestatis est Diabolus, et ideo destruet eum Christus)


-"aquele iníquo que virá com o poder de Satanás". Prediz o poder do Anticristo, para seduzir, e a causa deste poder de sedução, a justiça do Senhor, "por não haver recebido e amado a verdade para salvar-se os que pereceram". Põe também ao autor deste poder, o modo de seduzir, os seduzidos ou enganados. O autor deste poder é o diabo; por isso  Cristo o destruirá, que para isso veio, "para desfazer as obras do diabo" (1Jo 3,8). Por isso diz que o Anticristo "virá com o poder de Satanás", isto é, governará por instigação diabólica. "Será solto Satanás de sua prisão, e sairá e enganará as nações" (Ap 20,7). Pois das obras que fará algumas serão segundo a operação de Satanás, como as do endemoninhado ou possuído, em quem não só instiga a vontade senão ainda impede o uso da razão; em cujo caso não se lhe imputa a culpa, porque não usa de seu arbítrio. Mas o Anticristo não será assim, porque usará de seu arbítrio, e dentro dele estará o diabo instigando-lhe, como se disse de Judas (Jo 13,27).

E enganará desta maneira: primeiro valendo-se do poder secular; segundo, da força dos milagres. Quanto ao primeiro diz: "com toda sorte de milagres", a saber, do mundo. "Se fará dono dos tesouros de ouro e de prata e de todas as preciosidades de Egito" (Dan. 11,43). Ou com virtude fingida. Quanto ao segundo diz: "de sinais". Os sinais são uma espécie de "milagretes".* Os prodígios, entretanto são grandes, que demonstram que uma pessoa é um ser prodigioso, como quem diz à distância: distante, em dígitos: do dedo (Ap 13). E diz: "falsos prodígios". Chama-se falso um milagre, ou porque lhe falta a verdadeira razão do fato, ou a verdadeira razão do milagre, ou o devido fim do milagre. O primeiro é o que fazem os ilusionistas, melhor dito, o que se faz por arte de magia e bruxaria, quando o diabo se encarrega de dar “gato por lebre” para que pareça outra coisa do que é; como fez Simão Mago com um carneiro que mandou degolar, que logo se deixou ver vivo; ou com um homem, que todos criam degolado e, por haver-lhe visto logo vivo, creram-lhe ressuscitado. E isto fazem os homens fazendo fantasmas na imaginação para enganar.

*No latim: Prodigia vero magna, quae aliquem prodigiosum ostendunt, quasi procul a digito.(como se medisse a dedo) Ap. XIII, 13: fecit signa magna, ita ut et ignem faceret descendere de caelo, et cetera. Matth. XXIV, 24: dabunt signa magna et prodigia, ita ut in errorem inducantur, si fieri potest, etiam electi.

Procul (latim): à distância , ao longe, de longe

A segunda espécie de milagres, impropriamente chamados assim, são os que despertam grande admiração, por ver-se o efeito, sem conhecer-se sua causa. Assim pois "os milagres", que tem não simplesmente sua causa oculta, senão para algum oculta, dizem-se não simplesmente milagres, senão maravilhas. Mas os que tem simplesmente sua causa oculta são propriamente milagres, cujo autor é o mesmo glorioso Deus, porque estão acima de toda a ordem da natureza criada. Mas algumas vezes se fazem algumas maravilhas, cujas causas estão ocultas, mas não fora da ordem da natureza; e isto com mais razão o fazem os demônios, que conhecem as virtudes da natureza e tem determinada eficácia para especiais efeitos; e estas fará o Anticristo, mas não as que tem verdadeira razão de milagre, porque não tem poder naquilo que está sobre a natureza.

Dizem-se milagres em terceiro lugar os que estão ordenados a servir de testemunho à verdade da fé, ou a subtrair os fiéis a Deus, como se diz em São Marcos. Mas se algum tivesse a graça de fazer milagres, e não se valesse deles para este fim, os milagres seriam verdadeiros quanto à razão do fato e à razão do milagre; mas seriam falsos quanto ao devido fim e à intenção divina.

Mas isto não sucederá com o Anticristo, porque ninguém faz verdadeiros milagres contra a fé, já que Deus não é testemunha de falsidades. Donde um que ensine uma falsa doutrina não pode fazer milagres, embora um homem de má vida bem o poderia.



Logo sinala aos que se deixaram enganar, ao dizer: "àqueles que se perderam", isto é, aos destinados à perdição. "Nenhum deles tem perecido senão o filho da perdição". E isto precisamente porque "minhas ovelhas ouvem minha voz" (Jo 10).

Lição 3: 2 Tessalonicensses 2,10-16


O Anticristo seduzirá aos que não tem caridade; por isso há que pedir à Deus que se digne chamar-nos e não permita que nos apartemos da verdade.

11 Por isso Deus lhes enviará ou permitirá que obre neles o artifício do erro, com que creiam na mentira,

12 para que sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas que se comprazeram na maldade

13 Mas nós devemos sempre dar graças à Deus por vós, irmãos amados de Deus, por Deus havê-los escolhido por primícias de salvação, mediante a santificação do espírito e a verdadeira fé que lhes foi dada;

14 na qual os chamou assim mesmo por meio de nosso Evangelho, para fazê-los chegar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.


15 Que assim, meus irmãos, ficai firmes e mantenham as tradições que haveis recebido, ora por meio da pregação, ora por carta nossa.

16 E Nosso Senhor Jesus Cristo, e Deus, nosso Pai, que nos amou, e deu eterno consolo, e boa esperança pela graça,


17 alente vossos corações e os confirme em toda obra e palavra boa.


Depois de indicar a quem seduzirá o Anticristo, à saber, os destinados à condenação, aqui explica o porque do dito e como serão seduzidos; os fiéis, pelo contrário, como serão livrados. Assim mesmo indica só sua culpa, a pena com a culpa, só a pena. E este é o passo-a-passo com que procede o pecado: que primeiro é um desamparado da graça pelo demérito do primeiro pecado, e cai em outro pecado (porque um abismo chama a outro abismo), e por último na condenação eterna. Disse pois que a causa pela qual serão enganados é o não haver recebido e amado a verdade, isto é, a verdade do Evangelho (Jo 8; Jó 24); e diz: "caridade da verdade", porque, ao não estar informada a fé pela caridade, não tem nenhum valor (1Co 13; Gal. 6). E acrescenta o proveito que trai a verdade dizendo: "a fim de salvar-se" (Rm 5). Mas, por culpa de não haver recebido a verdade, a pena será seu engano; de donde diz: "enviará", isto é, permitirá que obre neles "o artifício do erro" (Is 19; 3 Reis 22). Por isso diz: "com que creiam na mentira", isto é, na falsa doutrina do Anticristo (Rm 1). Mas a pena é a eterna condenação; donde acrescenta: "para que sejam condenados", com sentença de condenação (Jo 5), "todos os que não creram na verdade" (Jo 3).

Ao dizer logo: "mas nós", mostra porque os fiéis de Cristo se verão livres; da graças por eles e relembra a memória dos benefícios divinos, pelos quais se veêm livres desses males. Diz pois assim: eles serão enganados, mas "nós devemos dar graças" (Rm 1). E recorda dois benefícios divinos, à saber, a eleição de Deus, que é eterna, e a vocação, que é temporal. Disse pois: "porque nos elegeu" a nós, os Apóstolos, "e a vós", os fiéis (Ef 1; Jo 15). Toca em três pontos na matéria da eleição, à saber, na ordem dos eleitos, no fim da eleição e no meio de conseguir o fim. Todos os santos tem sido eleitos desde o princípio do mundo (Deut. 33); mas as primícias de modo especial são os Apóstolos (Rm 8). Por isso diz: "primícias da fé". Assim mesmo o fim da eleição é a salvação eterna, como diz: "para a salvação" (1Tm 2). E isto se leva à efeito primeiro, da parte de Deus, por meio da graça santificante; donde diz: "mediante a santificação do espírito"; segundo, da parte nossa, com o consentimento de nossa vontade por meio da fé; por isso acrescenta: "e na verdade da fé ".

-"à qual os chamou". Põe o segundo benefício, que é a vocação temporal de Cristo, que segue-se à eleição (Rm 8). E sobre esta vocação repara na parábola do que fez a grande ceia (Lc 14) "por meio de nosso Evangelho" pregado por mim. Mas a qual ceia nos convida? "para fazer-nos chegar a glória", isto é, para que alcancemos a glória de Cristo.

Logo, quando diz: "assim que, meu irmãos", os admoestam a manterem-se firmes na verdade e interpõe a oração para este fim. E faz o primeiro, porque nuestras obras dependem de nossa vontade, e o segundo, porque é necessário o auxílio da graça.

E primeiro admoesta-os a estarem firmes (Gl 5); ensina logo o modo de está-lo: "e mantenham as tradições", isto é, os ensinamentos que receberam de seus maiores; porque os que se recebem dos menores algumas vezes não tem de ser observados, à saber, quando se opõe aos ensinamentos da fé (Mt 15); mas sim quando dizem respeito aos mandamentos divinos, "que haveis aprendido". "Recomendavam aos fiéis a observância das tradições e decretos acordados pelos Apóstolos e os presbíteros que residiam em Jerusalém" (At 16,4). E estas tradições de duas maneiras lhes deram à conhecer: umas com palavras; donde diz: "ora por meio da pregação"; outras por escritos; por isso acrescenta: "ora por carta nossa". Donde se põe de manifesto que haviam muitas coisas na Igreja não escritas, que os Apóstolos ensinaram e, por conseguinte, hão que se observar; pois muitas coisas - disse Dionísio -, a juízo dos Apóstolos, eram melhor ocultá-las. Por isso disse o Apóstolo: "quanto ao mais já o disporei quando lá chegar" (1Co 10). - "E Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai ...": Pondo esta frase, como se dissesse: estas são minhas recomendações, mas de nada serve sem o auxílio divino. Por isso põe primeiro um duplo benefício de Deus: o amor que nos tem e pelo qual nos concede outras coisas; por isso diz: "nos amou"; e a consolação espiritual: "e deu eterno consolo" (2Co 1; Is 40). E diz consolo eterno, à saber, contra todos os males iminentes e futuros. Por isso estamos na expectação de "uma boa esperança", isto é, desses bens eternos que infalivelmente nos estão prometidos (1Pe. 1). E isto "pela graça", pela qual esperamos conseguir a vida eterna (Rm 6). Pede para eles uma exortação, que é uma admoestação encaminhada a mover o ânimo a que queiram; e esta pode fazê-la o homem exteriormente; mas não seria eficaz, se interiormente não o alentasse o espírito de Deus; donde disse: "alente vossos corações", isto é, o mova. "Eu a levarei à solidão e falar-lhe-ei ao coração" (Os 2). Assim mesmo pede a confirmação; por isso diz: "e os confirme" (Sl. 67); como se dissesse: nos alente com sua graça para que queiramos, e nos confirme para que eficazmente queiramos. E isto "em toda obra e palavra boa". A obra leva a dianteira da palavra, porque Jesús começou primeiro a obrar e depois ensinou.


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2) Texto Biblico (investiga un texto bíblico y su comentario) - en espanhol;

3) Comentarios (na barra lateral esquerda – abaixo do título: Parágrafo citado en estos instrumentos biblicos);

4) em Tomás de Aquino : Aquino - 2 TESALONISENSES




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